O contexto de recuperação econômica no Brasil deve manter o mercado de fusões e aquisições ativo nos próximos anos. No lugar das “operações de crises” – que envolvem empresas em dificuldades e que precisam fazer caixa –, a tendência é que os negócios aprimorem a qualidade, com movimentos de consolidação para conquistar mercado.
O nível de preços atraente com a retomada é outro fator que impulsiona fundos e companhias, principalmente de outros países. A potencial fusão das empresas de celulose Fibria e Suzano é um exemplo desse cenário. As negociações vêm sendo discutidas há anos, mas se intensificaram recentemente, quando as companhias confirmaram oficialmente a intenção de unir as operações.
A Consultoria Britânica Dealogic concluiu, em um de seus levantamentos de dados de análises, que já foram feitas 37 operações de fusões em 2018 no Brasil, totalizando US$ 1,5 bilhão. Essa quantia engloba tanto operações já finalizadas como outras que estão em fase de conclusão. Para advogados que trabalham nessa área, há grande chance de o mercado de fusões e aquisições superar, ainda nesse ano, os 405 negócios firmados em 2017 – que movimentaram US$ 52,7 bilhões.
José Eduardo Carneio Queiroz, sócio-diretor do escritório Mattos Filho, avalia que a tendência macroeconômica positiva fortalece a queda nas transações por motivos de necessidade de recursos. Afirma, além disso, que a recuperação das atividades ainda não chegou em seu ápice, o que mantém os preços em níveis interessantes.
A visão positiva da economia já se reflete na qualidade dos ativos das empresas. Com balanços mais estáveis, é possível a elaboração de estratégias que consolidem investimentos contra a concorrência e o aumento de fatias de mercado. Mesmo com as incertezas da política brasileira, essa realidade dificilmente vai mudar, visto que o mercado de fusões e aquisições, inclusive em períodos de crise intensa, conta com boas oportunidades.
Para Maria Cristina Cescon e Roberto Barrieu, sócios do Cescon Barrieu Advogados, no médio prazo, os tempos de ouro serão recuperados, principalmente nas áreas de infraestrutura, energia, óleo e gás: “Temos visto que as consultas voltaram de clientes que ficaram afastados. Na área de fusões e aquisições, o escritório atua em cerca de 50 a 70 operações por ano, com aproximadamente 14 sócios envolvidos em quatro operações cada um, incluindo negociações finalizadas ou não. Vemos 2018 e 2019 terminando com a continuidade desse fluxo”, acrescentam. A expectativa do escritório melhorou porque as operações “tóxicas” – ligadas à crise – vendem mal e são mais difíceis de se concretizarem.
No período pós-crise, a Vale Fertilizantes foi vendida para a Mosaic, negociação que se encerrou em janeiro deste ano. A transação resulta da estratégia de a Vale concentrar esforços em sua atividade principal. Houve também a compra da rede Borgato pela JSL, ação referendada, em dezembro de 2017, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O objetivo foi a criação da maior empresa no setor de locação de máquinas e caminhões.
No auge da crise brasileira de 2009, 322 operações foram fechadas, segundo informou o Dealogic. Naquele ano, a economia reduziu em 0,3%. Dali em diante, o mercado de fusões reagiu e foi impulsionado: já em 2012, foram registrados 829 negócios, representando o maior número desde 1995, com o crescimento de 0,9% da economia.