Caixa aposta em índice de IPCA visando ao capital privado

A Caixa Econômica Federal, seguindo a linha de pensamento liberal do governo, vem demonstrando interesse em atrair investimentos do capital privado. O banco está reduzindo sua alavancagem e começou a quitar a dívida com o Tesouro: serão pagos R$ 3 bilhões nas próximas semanas e mais R$ 17 bilhões até o fim do ano.

Também ocorrerá a venda de 241 milhões de ações ordinárias da Petrobrás. Essas medidas visam diminuir a dívida pública e ajudar a Caixa a limpar seu balanço. Entretanto, o potencial é limitado para incentivar o crescimento dos empréstimos e, por isso, a Caixa procura se aproximar do mercado de capitais. Não há detalhes da operação, mas o banco informou que concederá empréstimos corrigidos pelo índice de inflação do Índice de Preço ao Consumidor (IPCA). Até o momento, a única opção é a Taxa Referencial (TR), que remunera as cadernetas de poupança. Estabelecida pelo Banco Central (BC), tem sido mantida em praticamente zero desde os anos 2000. Ao substituir a TR pelo IPCA, a Caixa irá oferecer ativos compatíveis às necessidades de fundos de pensão e de investidores em busca de proteção contra a inflação, facilitando o acesso a novos recursos. 

A medida visa recuperar a falta de investimentos. Até agora, o capital dos créditos na compra de imóveis acontece por meio dos financiamentos normais (poupança), pelo programa Minha Casa Minha vida e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Porém, o limite de capital disponível tem um resultado inferior ao seu potencial. Ao utilizar o IPCA no lugar do TR será possível atrair dinheiro de investidores que buscam ativos que pagam juros fixos mais a variação da inflação. 

O mercado poderá crescer, também, caso os juros e a inflação sejam controlados. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, anunciou a indexação dos financiamentos ao IPCA, alegando que os juros de crédito serão diminuídos. Créditos fora do Minha Casa Minha Vida obtiveram a queda da taxa de 9,75% a 8,5% ao ano. As medidas adotadas pelo banco afastam o medo de que haja uma sangria nos recursos para o Minha Casa Minha Vida, devido à liberação dos saques do FGTS para reanimar a economia. Na Direcional, 80% das receitas dependem das obras financiadas pelo programa. O programa gera 600 mil empregos diretos. 

Contudo, há alguns pontos que evidenciam possíveis desvantagens: se a utilização do IPCA já estivesse em vigor, os contratos seriam encarecidos. Os técnicos da plataforma desenvolveram um levantamento de preços dos financiamentos retroativo a 2014. Em nenhum desses anos, o financiamento com o IPCA foi mais barato do que com a TR. Em 2019, um empréstimo de R$ 300 mil indexado pelo IPCA custaria 10,79% ao ano, já em um contrato feito pela TR haveria juros de 8,71% ao ano. O IPCA é um índice mais volátil, podendo encarecer significativamente o crédito concedido.