Etapas do processo de fusão e aquisição de empresas

Os dados da consultoria Transactional Track Record (TTR) revelam o melhor ano da história em M&A. Foram 64% mais acordos firmados entre janeiro e setembro deste ano, se comparado ao mesmo período de 2020.

O crescimento observado nos últimos meses pelo movimento de fusões e aquisições no Brasil deu novo fôlego a um mercado retraído e reforçou a importância de entender como o processo acontece na prática. Foram diversos acordos bilionários celebrados entre gigantes brasileiras e empresas de tecnologia, como no caso da compra da KabuM! pelo Magalu, em um movimento que aponta a verticalização do negócio. A estratégia da maior e mais valiosa varejista do país desperta ainda a atenção de especialistas para uma tendência que flerta com experiências 360º e complementares a seus serviços.

 

Embora esse tipo de anúncio agite o mundo dos negócios, dispare ações e surpreenda analistas, há um bastidor de idas e vindas, sigilo e muita burocracia até que o ‘sim’ seja dado por ambas as partes. “O nível de maturidade da empresa vai impactar o andamento do processo, mas, independente disso, é preciso se preparar para enfrentar uma das maiores maratonas de trabalho da sua vida”, analisa Fabiana Fagundes, advogada da FM/Derraik, escritório especializado em Venture Capital, M&A e Strategic Advisory.

 

Negócios dessa natureza acontecem há anos e, em muitos casos, desde o dia 1 da empresa. Ao longo de 22 anos de operação, a argentina Mercado Livre negocia cerca de uma aquisição por ano, em média, e realiza vários investimentos minoritários em startups de tamanhos variados.“Olhamos para muitas empresas, mas compramos poucas, por escolha consciente nossa e pela forma como operamos e inovamos. De toda forma, estamos sempre abertos a negócios que vão acelerar as várias frentes que estamos tocando”, conta o Diretor Sênior de M&A e Novos Negócios no Mercado Livre, Renato Pereira.

 

Segundo o executivo, a gigante do comércio eletrônico só adquire empresas com diferenciais muito fortes. “Escolhemos negócios que tragam expertises que não temos ou aceleram de forma relevante nosso time to market de algum produto ou serviço, alinhado com o timing de nossas demandas também”, diz. Há pouco tempo, o Mercado Livre anunciou a aquisição total da plataforma de entrega de encomendas, Kangu, ampliando sua atuação logística na América Latina. No ano passado foi a vez da Lagash, software house da Colômbia, com cerca de 400 desenvolvedores, engrossar a lista de novas aquisições da companhia, e ser o pontapé para a construção do centro de desenvolvimento do Mercado Livre naquele país.

 

Uma movimentação desse tipo pode ser o fôlego necessário para a guinada de uma empresa, mas conhecer as etapas de uma M&A tornam as negociações mais assertivas e menos arriscadas. Todo o processo de fusões e aquisições é abordado na 2ª edição do curso Exit Makers. Oferecido pela Future Dojo, escola de competências do futuro criada pela ACE e EXAME, o curso terá início no próximo dia 22 e conta com aulas imersivas das maiores referências do mercado de M&A, como Renato Pereira (Mercado Livre) e Fabiana Fagundes (FM/Derraik).

Para ficar por dentro do assunto, confira, abaixo, os 3 passos principais de um M&A na vida real, de acordo com Fabiana Fagundes:

 

Deal olho no olho

Normalmente os potenciais compradores e vendedores encontram-se diretamente ou por meio de assessores financeiros, que avaliam a viabilidade do negócio e, mediante confirmação preliminar de interesse, contam com seus advogados para ajustar os principais termos e condições da operação num pré-contrato, a que dá-se o nome de Term Sheet, MoU (Memorandum of Understandings) ou Carta de Intenções. Importante dizer que a maior parcela dos termos é apenas indicativa e não obriga as partes a consumar o negócio até que os contratos definitivos sejam assinados.

 

Check-up do negócio

Uma vez alinhados por pré-contrato, o vendedor prepara um Data Room, que funciona como uma espécie de ambiente virtual em que assessores do potencial comprador avaliam a documentação do vendedor para determinar a situação financeira, comercial, jurídica e contábil da sociedade-alvo, a fim de confirmar o valor do negócio e eventuais riscos e passivos, sejam eles relativos à operação em si ou à sociedade-alvo, trazendo eventuais recomendações para mitigar ameaças. A essa averiguação dá-se o nome de Due Diligence e são envolvidos advogados e auditores nesse processo.

 

A hora das assinaturas

Concluída a Due Diligence e confirmada a intenção de prosseguimento na operação, negociam-se os contratos definitivos, com ou sem condições a serem cumpridas para o fechamento do negócio. Este é o momento em que a compra é, de fato, concluída, e os valores acordados podem ser transferidos. Realizado o negócio, as empresas ainda passam pela fase de integração e de comunicação do acordo frente colaboradores, clientes e stakeholders.

 

Fonte: Revista Exame