Práticas de governança são ‘fator-chave’ para sucesso de empresas familiares, mostra pesquisa

As boas práticas de governança são uma exigência cada vez maior para as empresas em um mercado competitivo, e as companhias familiares não são exceção.

Atender as expectativas de boas práticas de governança é a prioridade de mais da metade dos empreendimentos familiares, segundo uma pesquisa divulgada pelo ACI Institute, o instituto de governança corporativa da KPMG no Brasil, a que o Estadão teve acesso.

Para 53% dos consultados pelo estudo, as boas práticas seriam a chave para o sucesso dos negócios. Essa percepção teria sido impulsionado pela mudança de comportamento das grandes empresas, que vem “fazendo uma jornada ESG e querendo evoluir”, segundo Sílvia Scorsato, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).

Márcio Velletri, sócio-fundador da empresa do setor plástico Promaflex, uma das participantes da pesquisa, afirma que essa sempre foi uma preocupação da empresa, ainda comandada pela família que a criou. “Hoje está se dando nome para certas atitudes que algumas empresas já têm há muito tempo. O meio ambiente e o social, por exemplo, sempre foram uma preocupação para nós”, afirma Velletri, destacando que a empresa, que atua na fabricação de plástico em Taboão da Serra, São Paulo, se responsabiliza em zerar os resíduos produzidos.

Para todos

A presidente da ABBC, que também é diretora de ESG do Banco Sofisa, destaca que essa já é uma tendência do mercado. Para ela, ter uma agenda voltada para estes assuntos têm sido, inclusive, uma exigência de muitos consumidores para comprar de determinada empresa.

Sidney Ito, sócio da KPMG, vai além e destaca que a governança corporativa é essencial para o desenvolvimento e sucesso em todas as empresas familiares, independente do porte.

A presidente da ABBC ressalta que embora seja essencial, algumas empresas pregam que estas temáticas estão majoritariamente associadas às grandes marcas. Para ela, no entanto, este receio não pode ser encarado como uma “resistência” das empresas. “É falta de conhecimento e de recursos”, afirma Sílvia Scorsato.

“As empresas têm melhorado as suas práticas. A gente tem visto uma evolução não só nas empresas de capital aberto, mas também nas de sociedade limitada”, diz Valéria Café, diretora de vocalização e influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), destacando que é preciso também verificar o estágio em que a empresa se encontra para cobrar determinados padrões.

Com isso, os especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que as empresas familiares que adotam essa agenda só têm a ganhar, já que, além de impulsionar o engajamento da marca, também incentivam o consumidor a criar uma relação com a empresa a partir do momento que se identificam com os valores dela.

Pontos fortes

O estudo idealizado pela KPMG ainda destaca que as empresas familiares possuem algumas vantagens frente aos grandes conglomerados, já que além de criar uma sensação de proximidade ao conviverem com os donos, a rápida tomada de decisões e a sua flexibilidade seriam o ponto forte das empresas familiares para 44% dos entrevistados.

Andrea Velletri, gerente de Marketing da Promaflex e filha do fundador da empresa, destaca que estes pontos podem ser vistos na prática. Para ela, nas empresas menores há menos burocracia e uma maior autonomia dos departamentos.

“As pessoas que prestam serviços para gente falam: ‘nossa, é só isso? Já aprovou o meu pedido?’, porque nas empresas que elas trabalhavam eram dez formulários. Para nós, se é importante e está dentro do objetivo, nós fazemos”, diz Andrea, destacando que este é um dos maiores trunfos das pequenas empresas.

Outro destaque deste modelo de negócio seria a marca forte ou presença de mercado, com 33% dos entrevistados tendo esta opinião. Em terceiro estaria o engajamento dos colaboradores, segundo 31% dos entrevistados pela KPMG.

Em contrapartida, essas empresas também têm de lidar com pontos negativos que empresas maiores não viveriam, como o fato de estas organizações estarem mais sujeitas a serem afetadas por questões pessoais. Outro fator que também afeta essas empresas são: a dificuldade de atrair talentos, considerando que elas têm um apelo midiático menor que o de grandes conglomerados.

Além disso, o orçamento menor também se torna um fator negativo. “Dentro de uma multinacional você tem fundos ilimitados, enquanto em uma empresa familiar é sempre preciso alocar os recursos. É tudo feito na ponta do lápis”, explica Márcio Velletri, sócio-fundador da Promaflex.

Porém, a presença de controles externos, como auditorias e membros do conselho que sejam de fora da família, também tende a ser um fator importante para a governança. A ajuda de profissionais capacitados no mercado pode trazer mais conhecimento e fortalecer a inovação, além de passar uma mensagem adequada para o mercado.

“Se eu quero expandir, vai ter banco, auditor, mercado me observando”, alerta Ito, da KPMG. É um ponto de atenção para as empresas brasileiras porque normalmente a família busca ficar no controle da empresa, como ocorre com as companhias familiares europeias e diferente das americanas, que costumam vender as organizações.

 

Fonte: Estadão